Afinal, por que o álcool 70% é mais eficaz como bactericida que o álcool absoluto?

Na área da saúde, “álcool” refere-se a dois compostos químicos solúveis em água – álcool etílico (etanol) e álcool isopropílico – que têm características germicidas em função de suas concentrações.

Recordo quando estava na graduação e aconselhei meu pai a comprar álcool (etanol) 70%, pois seu uso seria mais eficiente na desinfecção do que o álcool 99,6% (absoluto). Em contrapartida ao conselho, veio uma pergunta: “Mas se ele é menos concentrado, por que é mais eficiente?”. A razão por trás disso é o modo de ação do álcool 70%.

O álcool 70% possui concentração ótima para o efeito bactericida, porque a desnaturação das proteínas do microrganismo faz-se mais eficientemente na presença da água, pois esta facilita a entrada do álcool para dentro da bactéria e também retarda a volatilização do álcool, permitindo maior tempo de contato. Nesta concentração, o etanol destrói bactérias vegetativas, porém esporos bacterianos podem ser resistentes. Fungos e vírus (envelopados, como o vírus Influenza H1N1) também são destruídos pelo álcool.

 

Na verdade, a ciência sabe que o álcool interrompe muitas funções essenciais à bactéria, embora não estejam muito claras quais destas interrupções podem levar à morte celular.

 

Prováveis efeitos:

Em primeiro lugar, o álcool destrói a membrana celular externa por desidratação, afinal o álcool é higroscópico e hidrofílico. Em segundo lugar, as moléculas de álcool penetram no citoplasma e, como resultado, precipitam as proteínas devido à desnaturação. Em terceiro lugar, causa coagulação de enzimas responsáveis por atividades celulares essenciais.

Quando se utiliza o álcool (etanol) 99,6% para desinfecção, ocorre uma coagulação extremamente rápida, não havendo penetração no interior da célula e, portanto, não matando o micróbio. Essa atuação ineficaz ocorre devido à rápida volatilização do etanol nessa concentração.

 

E por que 70%?

O grau de hidratação é um fator importante para a atividade antimicrobiana, mas como chegaram à conclusão de que a concentração 70% é melhor do que a de 50%, 60% ou 80%, por exemplo? Muitas pesquisas foram conduzidas, e podemos citar algumas em que observaram a atividade antimicrobiana do álcool em grau inferior a 50% e superior a 70%1,2,3,4 , concluindo que essa atividade decresce acentuadamente nos dois extremos. Portanto, uma boa atividade germicida ocorre entre 50 a 70%, sendo a máxima a 70% de diluição.

Conteúdo original disponível em:

http://foodsafetybrazil.org/afinal-por-que-o-alcool-70-e-mais-eficaz-como-bactericida-que-o-alcool-absoluto/#ixzz4dO0JGndF

 

REFERÊNCIAS

1- Rochon-Edouard S, Pons JL, Veber B, Larkin M, Vassal S, Lemeland JF. Comparative in vitro and in vivo study of nine alcohol-based handrubs. Am J Infect Control 2004; 32: 200-4.

2- Kampf G, Kramer A. Epidemiologic background of hand hygiene and evaluation of the most important agents for scrubs and rubs. Clin Microbiol Rev 2004; 17(4): 863-93.

3 – Rotter ML, Koller W, Neumann R. The influence of cosmetic additives on the acceptability of alcohol-based hand disinfectants. J Hosp Infect 1991;18 (Suppl B):57-63.

4 – Lawrence C. Testing alcohol wipes. Nurs Times 1992; 88:63-6.

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Camila Cardozo

Farmacêutica Bioquímica formada pela Universidade Nove de Julho, atua em farmácia magistral há 20 anos e possui amplo conhecimento da rotina, destacando supervisão e liderança de equipe de produção.

Hoje, além de atuar no setor de atendimento farmacêutico e nos laboratórios da MEDICATIVA, oferece suporte técnico à classe médica, apresentando novidades do mercado e esclarecendo dúvidas nas prescrições magistrais.

Cursos no Conselho Regional de Farmácia:
-Interações Medicamentosas
-Gestão de Boas Práticas de Manipulação
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-Manipulação Veterinária.

Ambicamp:
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Universidade Nove de julho:
-Participação do I fórum de Cosmetologia
-Simpósio multidisciplinar de marketing farmacêutico
-Workshop de assistência e atenção farmacêutica.

Bruna Gene

Farmacêutica Bioquímica formada em 2012 pela Universidade Paulista, Técnica Química formada pela ETEC Getúlio Vargas
Atua na área farmacêutica desde 2004, especialmente na Manipulação Alopática.

Atualmente, gerencia o setor de produção da MEDICATIVA e oferece suporte técnico ao setor de atendimento. Também escreve artigos sobre saúde e bem estar.

Cursos Extracurrículares:

Farmácia Oncológica
Registro de Medicamentos
Técnicas de Aplicação de Medicamentos Injetáveis
III Simpósio de atualização em Farmacologia Clínica (Universidade São Judas Tadeu)
Marketing para mídias sociais

Natan Levy

Farmacêutico Bioquímico formado em 1978 pela Universidade de São Paulo
Especialista em Manipulação Alopática pelo Conselho Federal de Farmácia
Pós-graduado em Administração de Empresas em 1985 – Fundação Getúlio Vargas
Atuou em empresas farmacêuticas como Abbot e Johnson & Johnson
Empresário e Farmacêutico líder fundador da MEDICATIVA em 1988
Estudou Compouding Techniques no prestigiado Professional Compouding Centers of America, Estados Unidos em 2000
Diretor da Anfarmag – Associação Nacional dos Farmacêuticos Magistrais -1991/2001
Farmacêutico voluntário em asilo de idosos – 1999/2005
Palestrante convidado da FAPES em Reposição Hormonal Bioidêntica
Articulista e autor de diversos artigos em revistas médicas e farmacêuticas
Participação em inúmeros Congressos e Eventos na área Médica, farmacêutica como palestrante
Palestrante convidado da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e UNIP
Consultor em Farmácia de Manipulação Alopática
Co autor do livro: TERAPIA DE MODULAÇÃO HORMONAL BIOIDÊNTICA – Editora Fapes; 2009
Autor do capítulo “GESTÃO DE RISCOS NA MANIPULAÇÃO DO MEDICAMENTO INDIVIDUALIZADO” – GUIA PRÁTICO DA FARMÁCIA MAGISTRAL – Anderson Oliveira Ferreira et al – Volume 3 – 5ª edição – Editora Associada Ltda 2018